Enquanto o preço do cacau permanece em níveis historicamente altos, duas das maiores fabricantes de chocolate da Suíça seguem trajetórias opostas em 2025. A Lindt & Sprüngli AG acumula valorização de 29% no ano, enquanto a Barry Callebaut AG amarga uma queda equivalente de 29%, evidenciando como o modelo de negócios e o posicionamento de mercado estão determinando a capacidade de adaptação ao cenário atual.
A Lindt, conhecida por seus chocolates premium como os populares bombons Lindor, tem conseguido repassar o aumento de custos aos consumidores finais, inclusive com ajustes de preço de dois dígitos previstos ainda para este ano. Por outro lado, a Barry Callebaut — o maior fornecedor global de chocolate a granel para gigantes como Nestlé e Hershey — sofre com a falta de poder de precificação e margens pressionadas por clientes que reduzem o teor de cacau nos produtos finais.
A matéria-prima essencial, que quadruplicou de preço entre 2023 e 2024, impôs um verdadeiro teste de resiliência para toda a cadeia do chocolate. A Lindt soube capitalizar seu posicionamento premium, atraindo consumidores dispostos a pagar mais por qualidade, e conquistou espaço de mercado de concorrentes como Mondelez. O lançamento do chocolate “estilo Dubai”, no fim de 2024, foi classificado como um dos melhores da história da empresa, segundo o UBS.
“A Lindt se destaca em meio à atual turbulência do mercado de cacau, alavancando seu posicionamento premium”, destacou Ignacio Canals Polo, da Bloomberg Intelligence.
A empresa mantém a expectativa de que a tendência de consumo de “menos, porém melhor” continuará, consolidando a migração do mercado de volume para valor. Esse movimento dá suporte ao otimismo de analistas como David Roux, do Morgan Stanley, que afirma: “A Lindt se destacou durante o teste definitivo para marcas de chocolate”.
Em contraste, a Barry Callebaut enfrenta um cenário mais desafiador. Sua base de clientes industriais demonstra resistência em absorver aumentos de custos, preferindo reformulações com menos chocolate. Em abril, a empresa retirou sua projeção de vendas para o ano, gerando forte reação negativa nos mercados.
Além disso, a Barry Callebaut se tornou alvo de vendedores a descoberto, refletindo a desconfiança dos investidores quanto à capacidade da empresa de gerar caixa no atual ambiente. Dados da S&P Global Market Intelligence mostram que 23% das ações livres da empresa estavam emprestadas em 3 de junho — um indicativo elevado de aposta na queda do papel.
“Cada aumento no preço do cacau tem um impacto negativo no fluxo de caixa livre”, explicou Damian Burkhardt, gestor da EFG Asset Management.
A mudança de liderança também pesa: sob o comando do CEO Peter Feld, que assumiu em abril de 2023, a Barry Callebaut acumula um retorno anualizado negativo de 30%, frente a um ganho de 14% de seus pares.
Apesar da crise, alguns analistas enxergam potencial de reversão nas ações da Barry Callebaut, que operam em níveis semelhantes aos de 2011. Projeções sugerem uma alta de até 31% a partir dos níveis atuais. Já para a Lindt, atualmente próxima de sua máxima histórica, há alertas sobre valorização excessiva: o BNP Paribas Exane estima uma possível correção de 12%, citando que os papéis estão “caros”.
Ainda assim, o consenso é de que a Lindt, com sua capacidade de precificar, inovação em portfólio e força de marca, segue melhor posicionada no atual ciclo de escassez e pressão de custos no setor do cacau.
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